Exu e Oxalá

A relação entre Exu e Oxalá é uma das histórias mais antigas e profundas da mitologia africana e das religiões afro-brasileiras.

No Candomblé e na Umbanda, Exu e Oxalá possuem papéis únicos e fundamentais na compreensão do universo e da espiritualidade.

No entanto, a questão de quem teria “vindo primeiro” é um ponto intrigante e complexo que gera discussões e interpretações entre os adeptos.

Os itans, narrativas sagradas sobre os orixás, ajudam a esclarecer como Exu e Oxalá se relacionam e colaboram no equilíbrio das forças do cosmos.

Esses contos revelam uma relação de interdependência e complementação entre Exu e Oxalá, ilustrando a importância de cada um deles no processo da criação e na manutenção da harmonia universal.


Itan da Criação do Mundo

No início dos tempos, Olodumare, o Deus supremo na cosmologia iorubá, delegou a Oxalá a missão de criar o mundo e os seres humanos.

Oxalá, conhecido como o orixá da ordem, da paz e da criação, recebeu uma sacola sagrada de Olodumare contendo a matéria-prima para dar vida e forma ao mundo.

No entanto, para que essa missão fosse completa, Oxalá precisava de certos elementos que representavam energias vitais e que garantiriam a fertilidade da criação.

Um desses elementos era o epo, ou azeite de dendê, que era essencial para dar continuidade à obra e tornar o solo fértil.

Exu, sendo um orixá muito próximo e conhecedor dos caminhos e da energia do universo, advertiu Oxalá de que ele deveria levar consigo o epo, pois sem ele a missão poderia falhar.

No entanto, Oxalá, confiando plenamente em seu próprio poder, decidiu ignorar o aviso de Exu e seguiu em frente com a sacola sagrada.

Durante sua jornada, Oxalá enfrentou uma série de obstáculos. Ele caminhou longas distâncias e, com o tempo, foi ficando cada vez mais exausto e desidratado, sem forças para continuar.

Exu, observando a situação, interferiu mais uma vez, desta vez oferecendo a Oxalá o que ele precisava para se reanimar.

Somente depois de seguir a recomendação de Exu, Oxalá pôde seguir com sua missão, completando a criação do mundo e dando vida à humanidade.


Exu como Guardião dos Caminhos de Oxalá

Conta-se que Oxalá, devido à sua posição de grande importância entre os orixás, recebia constantemente inúmeros presentes e oferendas de seus devotos e de outros orixás.

Esses presentes, destinados a honrá-lo e a pedir sua bênção, eram muitos e de todas as direções, acumulando-se ao seu redor.

No entanto, Oxalá, sendo um orixá associado à tranquilidade e à paz, sentiu que esse fluxo constante de oferendas estava afetando sua serenidade.

Para resolver essa questão, Oxalá pediu a ajuda de Exu. Ele pediu que Exu ficasse nas encruzilhadas, o ponto de encontro de todos os caminhos, e que ali recebesse os presentes e oferendas em seu nome.

Dessa forma, Exu se tornaria o responsável por “filtrar” os pedidos e direcionar as oferendas, permitindo que Oxalá pudesse manter a paz e o foco em sua missão de trazer harmonia ao mundo.

Assim, Exu assumiu o papel de guardião das oferendas e do fluxo de energia destinado a Oxalá, posicionando-se nas encruzilhadas para receber tudo o que era enviado ao grande orixá.

Como guardião das entradas e saídas, Exu mantém a ordem e organiza as energias, decidindo quais mensagens, pedidos e oferendas podem chegar a Oxalá.

Esse itan explica por que as oferendas a Exu são tradicionalmente colocadas nas encruzilhadas antes de qualquer ritual ou oferenda aos outros orixás.

Sem a presença de Exu, os caminhos ficariam bloqueados, e as intenções de Oxalá não poderiam se concretizar.

Isso revela que a atuação de Exu é indispensável para que a paz e a organização simbolizadas por Oxalá possam se manifestar.

Esse itan ensina que o equilíbrio do universo depende da interação entre essas forças complementares, pois o movimento e a transformação de Exu possibilitam a estabilidade de Oxalá.

Nesse contexto, Exu é visto como o “guardião da porta” ou aquele que permite que a energia de Oxalá chegue a seus destinos.

Com isso, o itan reforça a importância de respeitar e honrar tanto o sagrado quanto o mundano, pois ambos são necessários para o equilíbrio da existência.


O Itan da Separação dos Mundos

Outro itan sobre a criação do mundo narra a importância de Exu na separação entre o mundo dos vivos e o dos mortos, tarefa designada a Oxalá.

Oxalá, encarregado de estabelecer ordem e harmonia, precisou contar com a colaboração de Exu para garantir que os limites entre esses dois planos fossem respeitados.

Exu, que possui a habilidade de transitar entre os diferentes reinos, atuou como o responsável por levar mensagens e garantir a ordem entre os mundos.

Esse itan mostra que Exu é a ponte entre o mundo espiritual e o mundo dos humanos, permitindo que a comunicação aconteça de forma equilibrada e eficaz.

A relação entre Exu e Oxalá neste contexto é de apoio mútuo: enquanto Oxalá estabelece as regras e o equilíbrio, Exu se torna o executor que garante que tudo funcione conforme o planejado.

Assim, o itan reflete a necessidade de Exu para que a organização de Oxalá seja mantida, reafirmando que ambos são essenciais para a preservação da harmonia universal.


Quem Veio Primeiro: Exu ou Oxalá?

A questão de quem veio primeiro, Exu ou Oxalá, é abordada de forma simbólica nos itans.

Para entender essa questão, é importante compreender o que esses orixás representam.

Oxalá é a força da ordem e da criação, responsável pela organização do universo e pela criação da humanidade. Exu, por outro lado, é a energia vital, o movimento, o impulso que coloca em prática a ordem criada por Oxalá.

A criação e a ordem de Oxalá só se tornam possíveis com a ação e o movimento proporcionado por Exu.

Assim, um não pode existir sem o outro: Oxalá sem Exu representaria a estagnação, enquanto Exu sem Oxalá representaria o caos.

Portanto, a pergunta “Quem veio primeiro?” não tem uma resposta definitiva, pois ambos representam forças complementares e interdependentes.

Esse itan ensina que o equilíbrio entre ordem e movimento é essencial para a existência.

Na perspectiva da cosmologia iorubá, tanto Exu quanto Oxalá surgem juntos no processo de criação, sendo igualmente importantes para a vida e o equilíbrio do cosmos.


Itans e sua Interpretação no Candomblé e na Umbanda

Os itans de Exu e Oxalá são interpretados de maneiras variadas no Candomblé e na Umbanda.

No Candomblé, esses contos são vistos como representações do relacionamento simbólico e funcional entre os orixás, destacando o papel essencial de Exu como mensageiro e facilitador do poder de Oxalá.

Na Umbanda, Exu é visto com grande respeito, e sua função é ajudar a limpar as energias negativas e facilitar a conexão dos homens com o mundo espiritual.

Embora os detalhes das histórias possam variar entre as tradições, a essência da interdependência entre Exu e Oxalá permanece constante.

Dessa forma, Exu e Oxalá representam a relação entre o sagrado e o profano, mostrando que o equilíbrio e a harmonia se baseiam no respeito mútuo e na colaboração entre forças complementares.


A Sabedoria por Trás dos Itans de Exu e Oxalá

Os itans de Exu e Oxalá são mais do que meras histórias; eles carregam ensinamentos profundos sobre equilíbrio, interdependência e respeito.

Eles mostram que, para que a criação aconteça, é necessário unir forças opostas, onde Exu representa o movimento e Oxalá a ordem.

A presença de Exu possibilita que as leis de Oxalá sejam cumpridas, garantindo que a paz e a harmonia sejam alcançadas.

Exu, com sua energia ativa, traz vida à criação de Oxalá, simbolizando a importância de se adaptar e transformar para alcançar o equilíbrio.

Dessa forma, os itans revelam que tanto o caos quanto a ordem são necessários para a vida, e que ambos os orixás desempenham um papel crucial na manutenção do universo.


A Essência de Exu e Oxalá: Forças Inseparáveis

No fundo, Exu e Oxalá representam dois aspectos essenciais da existência: o movimento e a estabilidade, a transformação e a paz.

Enquanto Oxalá simboliza a criação e a organização do cosmos, Exu representa a energia que dá vida a essa ordem, permitindo que o ciclo da vida continue.

Na prática, esses dois orixás ensinam aos seus devotos a importância de buscar harmonia e equilíbrio em todos os aspectos da vida.

Honrar Exu e Oxalá é reconhecer que, na vida, precisamos tanto da ordem quanto do movimento para crescer e evoluir.

Assim, as histórias de Exu e Oxalá nos inspiram a valorizar a interdependência entre essas duas forças e a buscar um equilíbrio entre elas em nossa jornada espiritual.


Exu e Oxalá

A questão de “quem veio primeiro” entre Exu e Oxalá é menos literal e mais simbólica na cosmologia afro-brasileira.

Exu e Oxalá representam forças complementares e inseparáveis: enquanto Oxalá simboliza a ordem e a criação, Exu representa o movimento e a transformação. Ambos são necessários para que o equilíbrio e a harmonia do universo sejam mantidos.

Nos itans, Exu frequentemente surge como aquele que ativa o caminho para as criações de Oxalá, trazendo a energia que dá vida ao que Oxalá organiza.

Dessa forma, ao invés de se verem em uma linha temporal, eles existem juntos em um ciclo de interdependência, onde nenhum realmente “vem primeiro” — ambos são essenciais para que o cosmos funcione.

Assim, os itans ensinam que Exu e Oxalá coexistem como duas faces de uma realidade interligada, onde a criação só se completa com o movimento e a transformação que Exu proporciona.

As lições contidas nos itans são um lembrete de que a criação e a transformação são processos contínuos e que, para viver em paz, devemos honrar tanto a ordem quanto o movimento, as forças que fazem da vida um caminho de crescimento e aprendizado.

Exu e Oxalá
Exu e Oxalá

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Categorizado em:

Espiritualidade,

Última atualização: 5 de novembro de 2024

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