O Candomblé é uma religião afro-brasileira que se originou dos conhecimentos e práticas trazidos pelos africanos escravizados ao Brasil.

Ele é uma celebração da espiritualidade e da conexão com os ancestrais, envolvendo uma rica tapeçaria de rituais, símbolos e objetos sagrados. Entre esses, o Mòkán no Candomblé ocupa um lugar especial, sendo um colar feito de palha da costa (Ìkó), utilizado pelos neófitos, ou novos iniciados, na religião. Este artigo explora em profundidade o significado, a confecção e o uso do Mòkán, bem como a importância da palha da costa na prática do Candomblé.

Significado e Função do Mòkán no Candomblé

O Mòkán é um colar trançado de palha da costa (Ìkó) que possui fechos semelhantes a pequenas vassouras de palha. Esses fechos são decorados com miçangas do respectivo Òrìsà do neófito, e ocasionalmente, com búzios.

Cada Casa de Àsé, ou templo, aplica seu uso ornamental conforme seus próprios preceitos, mas a utilização da palha da costa trançada é universal. O Mòkán é entregue ao filho de Orixá recém-iniciado e deve ser usado durante os primeiros sete anos após a iniciação, junto aos fios de contas.

Após este período de sete anos, conhecido como a obrigação de sete anos, o Mòkán é depositado no Igbá do Orixá, um recipiente sagrado que guarda objetos rituais importantes. Mesmo após o término de seu uso obrigatório, o Mòkán é considerado uma joia sagrada e deve ser preservado.

A Palha da Costa: Matéria-Prima Sagrada

A palha da costa, ou Ìkó, é uma fibra de ráfia extraída da palmeira conhecida como Igí-Ògòrò pelo povo africano. Esta fibra é um elemento essencial nas práticas e rituais do Candomblé, especialmente nas iniciações. A Ìkó é usada para confeccionar diversos objetos rituais devido às suas propriedades protetoras e curativas.

A palha da costa está profundamente associada ao Orixá Omolu/Obalwaye, um poderoso espírito de cura e transformação. Omolu é frequentemente representado coberto de palha da costa, simbolizando sua capacidade de renovar e restaurar a vida, curando males espirituais e materiais. A utilização da Ìkó nos rituais de iniciação protege os neófitos, que são vistos como particularmente vulneráveis durante os primeiros anos após sua entrada na religião.

Proteção Contra Energias Negativas

Uma das funções mais importantes da palha da costa é a proteção contra contaminações espirituais e energias negativas, especialmente os Ègúns, que são espíritos de pessoas falecidas que podem ser prejudiciais.

A Ìkó é usada na confecção de objetos como o Ikán (contra-egun) e a umbigueira de palha da costa, que protegem os iniciados dessas influências negativas. A aplicação espiritual do Mòkán, portanto, pode ser vista também como uma forma de proteção, especialmente do Òrí (cabeça) e do umbigo.

Símbolo da Formação e Crescimento Espiritual

O Mòkán tem um profundo simbolismo na jornada espiritual do iniciado. Ele é usado desde o pescoço até o umbigo, representando a conexão entre a cabeça, que é o receptáculo do Orixá, e o umbigo, que simboliza o nascimento para a vida espiritual. Este colar, portanto, representa a proteção e o cuidado do Òrí e do umbigo, que são considerados pontos vitais na espiritualidade do Candomblé.

Durante os primeiros sete anos, o iniciado é chamado de Iyàwó, que significa literalmente “noiva” ou “jovem esposa”. Este termo reflete o estado inicial de dedicação e aprendizado do novo adepto, que está nos primeiros passos de sua caminhada espiritual.

O Iyàwó é visto como uma flor em botão, uma promessa de futuro e continuidade para a tradição do Àsé. Usar o Mòkán é externar este momento crucial, simbolizando a beleza e a potencialidade do novo iniciado.

O Processo de Iniciação no Candomblé

Para compreender plenamente o significado do Mòkán, é importante entender o processo de iniciação no Candomblé. A iniciação é um ritual complexo e profundamente simbólico que marca a entrada de um novo adepto na religião.

Este processo envolve várias etapas, incluindo o resguardo, onde o iniciado se retira do mundo exterior para se concentrar em sua conexão espiritual e receber ensinamentos dos mais velhos.

Durante a iniciação, o neófito recebe o Mòkán, que é um dos muitos objetos sagrados que simbolizam sua nova jornada. Este colar é usado juntamente com os fios de contas, que são específicos do Orixá que rege o novo adepto.

A confecção do Mòkán, assim como de outros objetos sagrados, é um processo cuidadoso que envolve rituais e cânticos específicos, reforçando a importância da palha da costa como material protetor e sagrado.

O Papel do Mòkán na Proteção Espiritual

A proteção espiritual oferecida pelo Mòkán é um aspecto crucial de seu uso. A cabeça (Òrí) e o umbigo são considerados pontos vitais que necessitam de proteção especial.

No Candomblé, a cabeça é o receptáculo do Orixá, o ponto onde a divindade se manifesta e guia o iniciado. O umbigo, por sua vez, representa o nascimento para a vida espiritual e a conexão com os ancestrais e o divino.

Ao usar o Mòkán, o iniciado está simbolicamente protegendo esses pontos vitais contra influências negativas e energias prejudiciais. Esta proteção é essencial durante os primeiros anos após a iniciação, quando o neófito está mais vulnerável.

Além disso, o uso do Mòkán serve como um lembrete constante da presença e proteção do Orixá, reforçando a fé e a conexão espiritual do iniciado.

O Papel da Comunidade e dos Mais Velhos

No Candomblé, a comunidade desempenha um papel fundamental na formação e desenvolvimento espiritual dos novos iniciados.

Os mais velhos, ou sacerdotes e sacerdotisas, são responsáveis por guiar e ensinar os neófitos, transmitindo conhecimentos e práticas ancestrais que são essenciais para a continuidade da religião. O uso do Mòkán é um aspecto visível desta continuidade e da ligação entre as gerações.

Os mais velhos não apenas confeccionam o Mòkán, mas também supervisionam seu uso e explicam seu significado aos novos adeptos. Eles asseguram que os rituais sejam realizados corretamente e que os neófitos compreendam a importância de cada elemento do colar.

Esta orientação é crucial para o desenvolvimento espiritual dos Iyàwós, que aprendem a valorizar e respeitar os símbolos e rituais do Candomblé.

A Importância do Mòkán na Tradição Afro-Brasileira

O Mòkán não é apenas um objeto ritual; ele é um símbolo profundo da continuidade e resistência da tradição afro-brasileira. Através dos séculos, o Candomblé tem sido uma forma de resistência cultural e espiritual para os descendentes dos africanos escravizados no Brasil.

Os objetos rituais, como o Mòkán, são testemunhos vivos desta resistência e da capacidade de preservar e adaptar práticas ancestrais em um novo contexto.

A confecção e uso do Mòkán refletem uma rica herança cultural que se manifesta na música, na dança, nas cerimônias e nos objetos sagrados do Candomblé. Esta herança é passada de geração em geração, garantindo que os ensinamentos e valores dos ancestrais sejam mantidos vivos.

Ao usar o Mòkán, os iniciados não apenas se protegem espiritualmente, mas também afirmam sua identidade e pertencimento a uma tradição que celebra a vida, a espiritualidade e a conexão com o divino.

Rituais de Descarrego e Purificação

Além de sua função protetora, o Mòkán pode ser utilizado em rituais de descarrego e purificação. Esses rituais são realizados para limpar o corpo e o espírito de influências negativas e energias prejudiciais.

A palha da costa, com suas propriedades curativas e protetoras, é frequentemente usada nesses rituais para garantir que o iniciado esteja livre de qualquer contaminação espiritual.

Durante um ritual de descarrego, o Mòkán pode ser aspergido com água sagrada ou ervas especiais, reforçando sua capacidade de proteção e purificação.

Esses rituais são essenciais para manter o equilíbrio e a harmonia espiritual do iniciado, garantindo que ele esteja em um estado adequado para se conectar com seu Orixá e participar plenamente da vida comunitária do Candomblé.

A Transição do Iyàwó para o Sacerdócio

Após os sete anos de uso do Mòkán, o iniciado passa por uma nova fase em sua jornada espiritual. Este período marca a transição do estado de Iyàwó para um nível mais avançado de compromisso e responsabilidade dentro do Candomblé.

A obrigação de sete anos é um rito de passagem que celebra o crescimento espiritual e a dedicação do adepto.

Durante esta cerimônia, o Mòkán é depositado no Igbá do Orixá, simbolizando o fim de um ciclo e o início de outro. Este ato é uma forma de agradecer e honrar a proteção e os ensinamentos recebidos durante os primeiros anos de iniciação.

A joia sagrada é guardada como um símbolo de continuidade e respeito pela tradição, mantendo-se como um elo entre o iniciado e seu Orixá.

Mòkán Candomblé

O Mòkán é um objeto ritual profundamente significativo no Candomblé, representando proteção, crescimento espiritual e continuidade da tradição afro-brasileira. Feito de palha da costa trançada, ele é um símbolo tangível da conexão entre o iniciado e seu Orixá, bem como da proteção espiritual necessária durante os primeiros anos de iniciação.

Através do Mòkán, a rica herança cultural e espiritual do Candomblé é preservada e transmitida de geração em geração, garantindo que os ensinamentos e valores ancestrais continuem a florescer em um contexto moderno. Este colar, portanto, não é apenas um adorno, mas um testemunho vivo da força, resiliência e beleza da tradição afro-brasileira.

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Última atualização: 10 de outubro de 2024

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